Tereza,
a senhora idosa simpática, pequenina que foi colorida com as cores leves da
ingenuidade e pureza de uma menina que não percebeu os cabelos branqueando com
o viver sofrido e com as perdas amargas que a vida lhe presenteou.
Com as vestes longas e com os passos curtos,
caminha como se tivesse sido diminuída pelo tempo e quisesse ocupar o menor
espaço possível para não perturbar as pessoas.
A pele queimada cobre-lhe os ossos destacados
no rosto e nas mãos e as rugas juntaram-se como se quisessem se defender do
tempo que se deslizou na sua frente como sombra invisível.
Sonda
o mundo que a cerca com os olhos no fundo da face magra e consumida, mas
enriquecida pelo semblante inofensivo de criança calada e, talvez, magoada.
Não
aprendeu a ler as letras, mas lê com precisão os olhares que a ela se dirigem,
neles identifica a censura, a bondade e a compaixão; lê as cores e a beleza das
roupas nas vitrines, os carros cheio de gente que lhe parecem bonecos imóveis
indo para algum depósito de uma grande loja de brinquedos distante da cidade.
Caminhando
pelas ruas, quando chega o fim da tarde fica sem a mínima vontade de voltar
para casa. Essa indisposição passou a existir depois de haver perdido o filho
para as lâminas afiadas das drogas. Desde então, sua morada deixou de ser o lar
e passou a se vestir com a capa tenebrosa da ausência impossível de suportar.
Naquele
recanto dela e do filho, onde ficaram por muito tempo, ele, animal sequestrado
pelo vício, a maltratava enquanto ela, mente que não perdeu a doçura e a serenidade,
não deixava de ser a mãe que o amava.
Lembrar-se
do filho andando pela cidade tornou-se uma carga menos dolorida. Às vezes,
sente-se sem dor, como se fosse outra pessoa, talvez um daqueles bonecos que
passam imóveis dentro dos carros indo para o depósito...
Jorge Lemos
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