sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

MÉDICO

Falar de um médico é o mesmo que discorrer sobre um profissional liberal formado em medicina, clinicando, aviando receitas, fazendo cirurgias... Nesse espaço reduzido a pretensão não é bem esta.
Dr. José Benedito Rodrigues era um médico, entretanto, é preciso ampliar um pouco este conceito, pelo simples fato de que ele priorizava a condição humana — tinha como horizonte a generosidade e a compaixão.
 Não era conduzido pelos parâmetros materialistas da medicina, menos ainda pelo poder de persuasão dos grandes laboratórios; tinha seu modo particular de ver as doenças e os doentes. 
 Um médico que, mesmo nas madrugadas frias ou chuvosas, não hesitava em levantar-se para entrar na boleia de um caminhão velho ou de uma charrete encardida para chegar às moradas extremamente humildes da zona rural.
Muitas vezes encontrava o doente afundado no colchão de palha de milho, que mal podia ser visto com a claridade da lamparina de querosene.
Em meio à fumaça da lamparina e o cheiro abafado de mofo do minúsculo cômodo com o chão de terra batida, lá estava ele, sem jaleco branco, com o rosto resplandecendo solidariedade a um irmão.
 Dr. Jose Benedito tornara-se, talvez por índole e pela lida com a dor humana, uma pessoa especial e sensível, pois conseguia, como se estivesse frente a um espelho, enxergar a si mesmo nos rostos pedintes de seus pacientes, principalmente naquelas faces que mais precisavam de sua ajuda.
Sabia que alguns medicamentos abrandavam algumas dores físicas, outros até curavam algumas doenças, mas sabia também que a sua presença afetuosa estava muito além dos remédios — um bálsamo com cores cintilantes de presente a um enfermo. 
Ao final de sua visita, muitas vezes ofereciam-lhe, como forma de pagamento pela consulta, uma galinha, um pouco de feijão; recebia aquilo com o sorriso de quem estava recebendo uma barra de ouro; não poucas vezes aceitava com o coração entristecido, pois sabia que aquele “pagamento” ia fazer falta à mesa daquela gente, mas não podia, não tinha o direito de recusar, precisava valorizar ao máximo o que lhe estava sendo oferecido.
 Jorge Lemos

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