Falar de um médico é o mesmo que discorrer sobre um
profissional liberal formado em medicina, clinicando, aviando receitas, fazendo
cirurgias... Nesse espaço reduzido a pretensão não é bem esta.
Dr. José Benedito Rodrigues era um médico, entretanto, é preciso
ampliar um pouco este conceito, pelo simples fato de que ele priorizava a
condição humana — tinha como horizonte a generosidade e a compaixão.
Não era
conduzido pelos parâmetros materialistas da medicina, menos ainda pelo poder de
persuasão dos grandes laboratórios; tinha seu modo particular de ver as doenças
e os doentes.
Um médico que, mesmo
nas madrugadas frias ou chuvosas, não hesitava em levantar-se para entrar na
boleia de um caminhão velho ou de uma charrete encardida para chegar às moradas
extremamente humildes da zona rural.
Muitas vezes encontrava o doente afundado no colchão de palha
de milho, que mal podia ser visto com a claridade da lamparina de querosene.
Em meio à fumaça da lamparina e o cheiro abafado de mofo do
minúsculo cômodo com o chão de terra batida, lá estava ele, sem jaleco branco,
com o rosto resplandecendo solidariedade a um irmão.
Dr. Jose Benedito tornara-se,
talvez por índole e pela lida com a dor humana, uma pessoa especial e sensível,
pois conseguia, como se estivesse frente a um espelho, enxergar a si mesmo nos rostos
pedintes de seus pacientes, principalmente naquelas faces que mais precisavam
de sua ajuda.
Sabia que alguns medicamentos abrandavam algumas dores
físicas, outros até curavam algumas doenças, mas sabia também que a sua
presença afetuosa estava muito além dos remédios — um bálsamo com cores
cintilantes de presente a um enfermo.
Ao final de sua visita, muitas vezes ofereciam-lhe, como
forma de pagamento pela consulta, uma galinha, um pouco de feijão; recebia aquilo
com o sorriso de quem estava recebendo uma barra de ouro; não poucas vezes
aceitava com o coração entristecido, pois sabia que aquele “pagamento” ia fazer
falta à mesa daquela gente, mas não podia, não tinha o direito de recusar, precisava
valorizar ao máximo o que lhe estava sendo oferecido.
Jorge Lemos
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