terça-feira, 24 de janeiro de 2017

RASTROS EM LAMBARI/MG






Eliana, adotada por uma família em Varginha, levava a vida dentro da normalidade, boa educação, pedagoga... Com autorização da mãe adotiva, resolveu ajudar, dar refeições a um morador de rua — um alcoólatra.

 Nada tão excepcional para gente mineira dar um prato de refeição a quem solicita, porém a repetição do ato de caridade começou a construir uma amizade intensa entre a caridosa e o morador de rua.

De repente, Eliana foi presa pelas algemas de uma paixão fora de controle, ficou totalmente cega e surda para o seu antigo mundo — conforto e segurança; desceu os degraus da escada de sua casa para não voltar, decidira morar em lugares incertos junto com o seu amado covarde e ingrato que não demorou a começar a agredi-la.  

Veio com esse rapaz para Lambari e, como rio desmanchando-se no mar, permaneceu debaixo das ondas dessa paixão sofredora e instalando-se em lugares variados desta cidade na companhia de seu carrasco.

 Sempre protegida pelo abrigo do amor que estende a manta capaz de suportar tudo, ela sorri, sorri para vida, com o olhar de compaixão para com os animais abandonados perambulando pelas ruas e praças e para com alguns errantes que povoam o seu universo.

Amável, segue seu caminho sem procurar entender o porquê de estar em Lambari, distante das pessoas e amigos que tanto a ama; talvez nunca quisesse entender nada, apenas ter a coragem de fugir do dia a dia invariável e aceitar um sentimento mais forte, capaz de fazer justificar a sua existência nessa Terra.

Movida por esse querer maior, vestiu-se com as roupas da indiferença para começar a dançar ao menor ruído de música vindo dos carros ou das lojas.

Dança a dança que abranda as dores de seu sofrimento, dança a dança da fuga para seu paraíso interior, seu palácio onde a platéia a aplaude de pé e bem distante da realidade cada vez mais real e amarga para muitos...

Jorge Lemos


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