Eliana, adotada por uma família em Varginha, levava a vida dentro
da normalidade, boa educação, pedagoga... Com autorização da mãe adotiva,
resolveu ajudar, dar refeições a um morador de rua — um alcoólatra.
Nada tão excepcional para
gente mineira dar um prato de refeição a quem solicita, porém a repetição do
ato de caridade começou a construir uma amizade intensa entre a caridosa e o
morador de rua.
De repente, Eliana foi presa pelas algemas de uma paixão fora de
controle, ficou totalmente cega e surda para o seu antigo mundo — conforto e
segurança; desceu os degraus da escada de sua casa para não voltar, decidira
morar em lugares incertos junto com o seu amado covarde e ingrato que não
demorou a começar a agredi-la.
Veio com esse rapaz para Lambari e, como rio desmanchando-se no
mar, permaneceu debaixo das ondas dessa paixão sofredora e instalando-se em
lugares variados desta cidade na companhia de seu carrasco.
Sempre protegida pelo
abrigo do amor que estende a manta capaz de suportar tudo, ela sorri, sorri
para vida, com o olhar de compaixão para com os animais abandonados
perambulando pelas ruas e praças e para com alguns errantes que povoam o seu
universo.
Amável, segue seu caminho sem procurar entender o porquê de estar
em Lambari, distante das pessoas e amigos que tanto a ama; talvez nunca
quisesse entender nada, apenas ter a coragem de fugir do dia a dia invariável e
aceitar um sentimento mais forte, capaz de fazer justificar a sua existência nessa
Terra.
Movida por esse querer maior, vestiu-se com as roupas da
indiferença para começar a dançar ao menor ruído de música vindo dos carros ou
das lojas.
Dança a dança que abranda as dores de seu sofrimento, dança a
dança da fuga para seu paraíso interior, seu palácio onde a platéia a aplaude
de pé e bem distante da realidade cada vez mais real e amarga para muitos...
Jorge Lemos
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