No município de Lambari/MG tem gente que parece mais gente do que
gente; gente simples, gente mais pura na alegria e na
dor, gente de nossa terra querida de Minas.
Quase maduro, ou maduro
mesmo, cabelos brancos e rarefeitos ou desfeitos pelos anos, franzia o
semblante no entorno dos olhos que se abriam e se fechavam com a paciência
daqueles que já chegaram aos sessenta.
Tiras murchas debaixo da barba desciam pelo
rosto magro para encontrar com outras no pescoço mal protegido pelo colarinho
surrado da camisa de cor desfeita pelas tantas e repetidas lavagens.
As mãos magras, cobertas por manchas escuras feitas pelos raios
venenosos do sol na lavoura de café, carregavam nas palmas a aspereza das
pedras para se proteger contra o sangramento arranjado pelo cabo da enxada na
capina ignorada.
Esperando para conseguir um empréstimo no Banco do Brasil, olhava
para dentro de si como peixe tirado da água naquele instante — pretendia
replantar o cafezal prestes a morrer.
Sentado à confortável cadeira na frente do servidor segurava com
palma e todos os dedos da mão um copinho descartável já vazio.
Depois de ouvir a extensa e rodopiante explicação do rapaz do
banco, pôde entender sem entender quase nada que não lhe seria concedido o empréstimo.
Fez uma expressão de profundo desgosto, sem dizer uma palavra,
deixou bem devagar o copinho sobre a mesa e saiu com os passos lentos e curtos
com as mãos procurando alguma coisa no
embornal.
Na rua seu olhar saiu de si voou para as colinas ao redor da cidade,
subiu as serras em direção ao bairro do Congonhal e, com a imaginação, chegou à
sofrida lavoura de café — o verde esfolado e triste estava imóvel como se o esperasse.
Uma realidade ressecada pela força da verdade penetrou-lhe na alma
mais oculta e mostrou-lhe o quanto não valia nada o seu sonho...
Logo a sua vontade foi despida, ficou nua e com vergonha.
Durante a juventude roubada
pelo trabalho árduo e sem letras foram somados sacrifícios com adjetivos cheios
de valores éticos, mas absolutamente anônimos.
Jorge Lemos
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