terça-feira, 22 de novembro de 2016

ERA APENAS UM CAVALO, MAS...

                MORREU NESSA MANHÃ de 22 de novembro de 2016, em Nova Baden, neste Município, o cavalo "Gaucho" cujo dorso amável estiveram meus filhos, ainda crianças, e meus netos e netas —, sempre em pelo. Nunca foi permitido colocar arreio sobre ele, desde seu resgate numa olaria onde era severamente torturado, no bairro do Serrote, também neste, em 1989.

                   Naquela manhã amarga os olhos dele me contemplavam enquanto eu lhe acariciava e tentava fazê-lo alimentar-se. — Tentativa inútil. Apenas aceitava passivamente meu carinho talvez para não ser indelicado.
               De repente seu corpo começou a tremer, a respiração ficou mais difícil, o ar saia entrecortado. Junto à aflição que o torturava somava-se a minha por não saber o que fazer.

                Ele procurou se afastar alguns centímetros como se temesse me machucar, curvou devagar as pernas dianteiras como se fosse ajoelhar-se, mas antes que pudesse fazê-lo, perdeu o controle dos membros e seu corpo foi de encontro ao chão como se alguém o tivesse derrubado covardemente.

               Fui ao seu encontro tentando massagear-lhe o pescoço, entretanto, o sofrimento não se arredava um milímetro sequer —, piorava cada vez mais diante de minha impotência. Então percebi que os olhos dele não me viam mais, olhavam para dentro de si mesmos como se tentassem descobrir o que estava acontecendo.

              Ele procurando ar e eu falando com ele, a agonia se prolongou por algum tempo até que, num esforço descomunal para se levantar, suas pernas retesaram-se e pararam! Estava imóvel para sua vida esvair-se rumo às montanhas próximas...

          O invólucro amável, coberto pela quietude da noite do silêncio, descansou no pasto que lhe acolhera. Não pôde mais me ouvir, nem me ver. Mas a sua aura ainda pode ser vista de relance movendo-se nas grotas e sob as sombras das árvores.

Jorge Lemos

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