sexta-feira, 28 de outubro de 2016

INSÔNIA




A insônia às vezes me coloca como inimigo do meio ambiente! Explico: um dia desses, cansado da labuta fui para a cama, mas ao invés de dormir fiquei, sem querer, capturando cobras, crocodilos, aranhas, escorpiões de minha floresta particular.

Estes bichos, despertados do seu lugar de origem, vieram fazer estripulias na superfície de minhas pálpebras.  

 De repente, começaram a conectar-se um ao outro numa amarração até fazerem a primeira pergunta: “o carnê da geladeira vai vencer ou já está vencido, seu moço?”
Surpreendido pela pergunta levantei-me rápido, abri a gaveta depressa, revirei os papeis e achei o maldito!

— Urra! Ainda não... Tenho mais alguns dias.  
Voltei a me deitar, mas antes de ajeitar a cabeça no travesseiro lá veio mais um tormento:

— A crise demitiu muita gente. O próximo poderá ser eu. Não, isso não é verdade. Sou muito útil na empresa. Não ficam sem a minha presença...
Tive um leve sorriso de satisfação e, sempre sem querer, comecei a analisar algumas coisas:

 — O carro só dá oficina! O que gasto com ele dá para comprar um novo à prestação. À prestação? Nossa!

Fiquei com os olhos arregalados outra vez.

— Mais dívida! Aí sim, me lasco de vez. Parece que estou carregado de inveja!  Só vem desgraça na minha cabeça. Tudo que penso é só para me “ferrar”.

Virei na cama para tentar afastar a bicharada e deparei com ela usando mais da metade da coberta, estava ressonando ao lado, toda cheia de paz, não estava nem aí com nada:

 — Essa aí até ronca.
Ela, de fato, apenas ressonava. Mas continuei com a implicância —, já estava muito irritado:

— Lógico! Não paga as contas. Ela está meio diferente comigo! Deve estar planejando trair o idiota pagador de contas. Ou já está traindo? Fica direto no celular, nessa tal rede social. Farreia às escondidas e agora dorme o sono dos que se cansaram no prazer.

 A transfusão de loucura começa a espalhar-se pelo corpo.

Olhando para o teto  volto a pensar:

— Amanhã  vou me levantar com os olhos vermelhos e cansados. Acordá-la para discutir, só vai aumentar a raiva e parar essa algazarra na cabeça é tarefa para um monge disciplinado. A questão é que não sou monge e nem disciplinado.

 Levantei-me e fui para o sofá da sala e comecei a ler um livro, então percebi que as palavras, produzindo imagens confortáveis de um mundo diferente do meu, puderam me trazer a paz de que tanto precisava naquele momento.

 Tive uma noite tranquila dormindo no sofá com o livro caído no chão.  
Jorge Lemos


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