A
insônia às vezes me coloca como inimigo do meio ambiente! Explico: um dia
desses, cansado da labuta fui para a cama, mas ao invés de dormir fiquei, sem
querer, capturando cobras, crocodilos, aranhas, escorpiões de minha floresta
particular.
Estes
bichos, despertados do seu lugar de origem, vieram fazer estripulias na
superfície de minhas pálpebras.
De repente, começaram a conectar-se um ao
outro numa amarração até fazerem a primeira pergunta: “o carnê da geladeira vai
vencer ou já está vencido, seu moço?”
Surpreendido
pela pergunta levantei-me rápido, abri a gaveta depressa, revirei os papeis e
achei o maldito!
—
Urra! Ainda não... Tenho mais alguns dias.
Voltei
a me deitar, mas antes de ajeitar a cabeça no travesseiro lá veio mais um
tormento:
—
A crise demitiu muita gente. O próximo poderá ser eu. Não, isso não é verdade.
Sou muito útil na empresa. Não ficam sem a minha presença...
Tive
um leve sorriso de satisfação e, sempre sem querer, comecei a analisar algumas
coisas:
— O carro só dá oficina! O que gasto com ele
dá para comprar um novo à prestação. À prestação? Nossa!
Fiquei
com os olhos arregalados outra vez.
—
Mais dívida! Aí sim, me lasco de vez. Parece que estou carregado de inveja! Só vem desgraça na minha cabeça. Tudo que
penso é só para me “ferrar”.
Virei
na cama para tentar afastar a bicharada e deparei com ela usando mais da metade
da coberta, estava ressonando ao lado, toda cheia de paz, não estava nem aí com
nada:
— Essa aí até ronca.
Ela,
de fato, apenas ressonava. Mas continuei com a implicância —, já estava muito
irritado:
—
Lógico! Não paga as contas. Ela está meio diferente comigo! Deve estar
planejando trair o idiota pagador de contas. Ou já está traindo? Fica direto no
celular, nessa tal rede social. Farreia às escondidas e agora dorme o sono dos que
se cansaram no prazer.
A transfusão de loucura começa a espalhar-se
pelo corpo.
Olhando para o teto volto a pensar:
— Amanhã
vou me levantar com os olhos vermelhos e cansados. Acordá-la para discutir,
só vai aumentar a raiva e parar essa algazarra na cabeça é tarefa para um monge
disciplinado. A questão é que não sou monge e nem disciplinado.
Levantei-me
e fui para o sofá da sala e comecei a ler um livro, então percebi que as palavras,
produzindo imagens confortáveis de um mundo diferente do meu, puderam me trazer
a paz de que tanto precisava naquele momento.
Tive uma noite
tranquila dormindo no sofá com o livro caído no chão.
Jorge Lemos
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