sexta-feira, 19 de maio de 2017

VISITANTE

VISITANTE

Um vendedor de ratos de plástico móveis
parado na esquina de duas ruas
na cidade de Lambari/MG.
Nada mais natural do que
um jovem de algum lugar de Minas
estar num canto movimentado,
tentando tirar o sustento
através do trabalho.
Um dos ratos espalhados no chão
era movimentado por um fio
controlado pela mão do vendedor,
assemelhava-se a um morcego
com asas cortadas
fazendo sem parar uma meia circunferência
na frente dos pés do rapaz.
O jovem enrugado precocemente
pelo trabalho que, se não era pesado,
era estressante,
estressante porque ninguém parava,
sequer, para dar uma olhada
naquele brinquedo
sem sentido para os adultos
e fora de onda
para as crianças conectadas.
Ele, olhando sem olhar,
vendo sem ser ver
o movimento a sua volta,
contemplava o infinito
como se buscasse uma solução,
um sentido mais exato para a sua vida.
Com os olhos meio que
abertos demais e cansados,
parecia que o mundo que o cercava
estava bambo, sem nada para agarrar
ou para se apoiar
por alguns instantes que fosse.
Os dedos arreganhados dos pés
enfiados num chinelo coberto de poeira
e humildade acumulada pela humilhação
despertaram uma compaixão carregada e
profundamente dolorida naqueles que perderam
alguns segundos para observá-lo.
Quem o viu teve a oportunidade
de vê-lo apenas por um dia...
Ninguém compra ratos de plástico
na cidade de Lambari.

 Jorge Lemos

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