MARCOLINO
OU TIÃO MARCOLINO.
Uma figura humana, a nosso ver, talvez pareça um pouco mais
humana por ser o mais mineiro dos mineiros.
Gostava de contar piadas sujas e ouvi-las também para
reproduzi-las de seu jeito e, às vezes,
com alguns acréscimos especiais para os amigos.
Trabalhou no bar do Juca nos idos tempos, depois teve seu
próprio bar de “Causos e Proseios” na Garção Stockler. Lugar de encontro e
reencontro de e com velhos companheiros de aventuras e lidas da vida. Com seu
jeito especial e calmo, passou a conquistar os mais jovens que iam se achegando
e se acostumando com o ambiente acolhedor perto da lotérica.
O bar sempre cheio de gente da roça, da cidade e de fora,
todos no mesmo barco, na mesma busca de paz e alegria, proseavam, bebiam e
comiam os petiscos feitos por ele. Os assuntos eram muitos e variados, iam
desde o futebol, à putaria e conversa fiada.
Ali teve figuras marcantes, sem prejuízo de outras
“figuraças” que lá frequentavam, é possível citar um em especial: o Motorzinho,
que embora já tenha pela noite e atravessado para outra margem do Rio Jordão,
não há como esquecê-lo sempre presente naquele recanto.
Diga-se de passagem, e como ato de extrema solidariedade,
Tião Marcolino, na época em que o “azuzinho” era raro, ele sempre tinha alguns no
bolso para servir os amigos mais inseguros. Nunca se soube exatamente como ele
conseguia essa coisa milagrosa.
Seu carisma nunca deixou de ser contagiante. Com o peso do
passar dos anos foi perdendo a postura de um homem espigado, mas nunca deixou
de carregar a sua experiência e transmiti-la com sabedoria aos mais jovens.
O que falar desse personagem? Usar os adjetivos surrados que
nada ou quase nada podem expressar sobre ele? Não! Tião Marcolino merece mais,
merece dizer que sua passagem por essa cidade deixou cores e lembranças que não
podem e não devem ser esquecidas — lembranças de humildade e alegria.
Marcolino amou a todos viventes, incluindo animais abandonados e vadios. Já na
velhice,com a dignidade de quem nunca desiste, carregava galões pesados cheio
de água, mas não deixava de parar para trocar uma prosa com um conhecido ou
contar uma piada.
Pisou, andou e deixou seu rastro sinalizado com harmonia e
beleza por esta pequena e amável cidade de Lambari. Tião foi uma luz na calçada
que fluía junto com o sol da manhã para alegria de todos.
Jorge Lemos
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